Medo De Namorar De Novo
Por: Sueli NascimentoQuando iniciamos os grupos de movimento "Começar de Novo" nosso objetivo, como terapeutas reichianas, era criar um espaço para os pacientes compartilharem, com outros em situação semelhante questões ligadas às suas dificuldades na busca por outro amor após divórcio ou viuvêz.
Em todos os contextos, mulheres inteligentes, interessantes e bonitas surgiam com o mesmo tipo de queixa: "não consigo me apaixonar" ou "não encontro ninguém legal". O tom era quase um lamento.
De outros, que iniciavam um novo romance, ouvíamos: "vou ficar com essa pessoa mesmo, é melhor assim que sozinho", tamanho era o medo da solidão e do vazio que estavam experimentando. Colocavam uma grande expectativa no relacionamento incipiente e que, sob muita pressão, logo terminava.
Começamos a questionar o porque de a situação se tornar tão repetitiva. Nasceu então o Grupo de Movimento Começar de Novo, para refletir sobre o que viemos a chamar de síndrome "por quê comigo?".
O que é a síndrome
No passado tudo era muito bem estabelecido: homens e mulheres conheciam-se, casavam-se e viviam felizes para sempre, ou melhor, viviam juntos para sempre, nem sempre felizes, mas era isso que se esperava deles e havia as compensações sociais pela manutenção do casamento.
Os padrões de relacionamento, entretanto, foram questionados e rompidos. Hoje nos esforçamos por não mais nos submetermos aos desejos do outro – seja esse outro um cônjuge inadequado, a família ou a sociedade tradicionais e repressoras – passamos a exigir mais dos relacionamentos amorosos e conceitos como fidelidade, família, monogamia e casamento entraram na ordem do dia.
É difícil começar de novo, e a demora em aprender e criar os novos modos de funcionamento em parceria apenas faz com que a síndrome ganhe mais força. O resultado é baixa auto-estima, sensação de inadequação e ansiedade para ficar com alguém "a qualquer custo".
Diálogo além do verbal
Uma das queixas constantes, tanto num bate-papo informal quanto num processo terapêutico, é a dificuldade de comunicação entre homem e mulher.
Vamos imaginar um saguão de aeroporto. Um homem viaja sozinho e percebe, na área próxima ao elevador, uma mulher também sozinha. Ele olha, ela olha, e alguma coisa acontece. Eles se apresentam e se põem a conversar.
No momento mágico, do primeiro olhar e da primeira conversa, eles não apenas comunicam fatos fora de sua relação inicial – a demora em servirem os cafés expressos, a ansiedade em conhecer o Rio de Janeiro, o porquê de estarem viajando sós etc. – como oferecem também definições de si mesmos.
Caso a conversa evolua, um poderá demonstrar ao outro que: "é assim que me sinto em relação". E, como estamos tratando de coisas hipotéticas, é possível namorem.
Metacomunicação
Nosso casal hipotético está namorando firme. Agora compartilham um apartamento, o tempo e as contas no fim do mês. Felizes para sempre? Ainda não.
As comunicações entre homem e mulher não se dão sem dificuldades e, graças à inadequação no modo de enviar ou captar mensagens, vez por outra os casais se envolvem em embates que dificultam ou inviabilizam a continuação do convívio.
Esteja ou não em atividade, falando ou em silêncio, o indivíduo estará sempre comunicando algo sobre o que pensa de uma dada situação.
Os discursos comunicam uma informação e impõem um comportamento ao interlocutor. É aqui que as coisas se complicam. Nem sempre o que se diz com a boca é confirmada por posturas corporais e atitudes. A mensagem pode ser entendida de maneira ambígua pelo outro e toda ambigüidade dá margem a interpretações errôneas.
Dessa forma, o parceiro talvez não compreenda o que se deseja ou se espera dele. O fundamental para manter as coisas claras é metacomunicar, isto é, explicar o que de fato se quer dizer – se isto não estiver claro para o outro.
Relação Simétrica ou complementar
Na complexa rede tramada durante os relacionamentos homem–mulher duas formas são mais usualmente encontradas.
– As relações simétricas, que se baseiam na igualdade e minimização das diferenças, ou seja, um parceiro não exige submissão do outro (pense naqueles casamentos em que tanto pagamento de dívidas como compromissos sociais são discutidos e resolvidos em conjunto). É um tipo de relação inclusiva e eticamente comprometida.
– E as relações complementares. Nesses relacionamentos há a maximização da diferença entre os indivíduos. No tocante à tomada de decisões os elementos ocupam uma posição definida na relação, alguém decide e alguém obedece. Utilizando discursos não-verbais cada um comunica ao outro o modo como espera que ele se comporte e aquele, por sua vez, pressupõe o que é esperado dele na relação e as respectivas definições de relação encaixam-se.
Acordos secretos
Seja qual for o nível de relação – namoro ou casamento – a situação se complica quando uma das partes já não encontra compensações na manutenção do relacionamento e decide pela separação.
Se a outra pessoa sentir que precisa do relacionamento para sua sobrevivência psicológica sofrerá intensamente e talvez necessite da ajuda profissional para lidar com a separação. Há quem se sujeite a qualquer coisa para não ficar sozinho.
De onde vem esse medo? A questão é muito complexa, mas a convivência no grupo de movimento possibilita o autoconhecimento e o aprendizado da inter-relação. Como resultado ocorre a revelação do que cada um compreende por amor e do que espera de um relacionamento.
Se você deseja participar de um grupo de movimento para pessoas que querem voltar a se relacionar, informe-se pelo: http://orgonoterapia.blogspot.com/search?updated-max=2010-05-15T14:06:00-07:00&max;-results=1.
* Publicado originalmente sob o ítulo "Começar De Novo" em Viver Psicologia (São Paulo), ano XII, 132:16-19, 2004. Com a preciosa colaboração de Sueli Eduardo Marinho.
Perfil do AutorEm todos os contextos, mulheres inteligentes, interessantes e bonitas surgiam com o mesmo tipo de queixa: "não consigo me apaixonar" ou "não encontro ninguém legal". O tom era quase um lamento.
De outros, que iniciavam um novo romance, ouvíamos: "vou ficar com essa pessoa mesmo, é melhor assim que sozinho", tamanho era o medo da solidão e do vazio que estavam experimentando. Colocavam uma grande expectativa no relacionamento incipiente e que, sob muita pressão, logo terminava.
Começamos a questionar o porque de a situação se tornar tão repetitiva. Nasceu então o Grupo de Movimento Começar de Novo, para refletir sobre o que viemos a chamar de síndrome "por quê comigo?".
O que é a síndrome
No passado tudo era muito bem estabelecido: homens e mulheres conheciam-se, casavam-se e viviam felizes para sempre, ou melhor, viviam juntos para sempre, nem sempre felizes, mas era isso que se esperava deles e havia as compensações sociais pela manutenção do casamento.
Os padrões de relacionamento, entretanto, foram questionados e rompidos. Hoje nos esforçamos por não mais nos submetermos aos desejos do outro – seja esse outro um cônjuge inadequado, a família ou a sociedade tradicionais e repressoras – passamos a exigir mais dos relacionamentos amorosos e conceitos como fidelidade, família, monogamia e casamento entraram na ordem do dia.
É difícil começar de novo, e a demora em aprender e criar os novos modos de funcionamento em parceria apenas faz com que a síndrome ganhe mais força. O resultado é baixa auto-estima, sensação de inadequação e ansiedade para ficar com alguém "a qualquer custo".
Diálogo além do verbal
Uma das queixas constantes, tanto num bate-papo informal quanto num processo terapêutico, é a dificuldade de comunicação entre homem e mulher.
Vamos imaginar um saguão de aeroporto. Um homem viaja sozinho e percebe, na área próxima ao elevador, uma mulher também sozinha. Ele olha, ela olha, e alguma coisa acontece. Eles se apresentam e se põem a conversar.
No momento mágico, do primeiro olhar e da primeira conversa, eles não apenas comunicam fatos fora de sua relação inicial – a demora em servirem os cafés expressos, a ansiedade em conhecer o Rio de Janeiro, o porquê de estarem viajando sós etc. – como oferecem também definições de si mesmos.
Caso a conversa evolua, um poderá demonstrar ao outro que: "é assim que me sinto em relação". E, como estamos tratando de coisas hipotéticas, é possível namorem.
Metacomunicação
Nosso casal hipotético está namorando firme. Agora compartilham um apartamento, o tempo e as contas no fim do mês. Felizes para sempre? Ainda não.
As comunicações entre homem e mulher não se dão sem dificuldades e, graças à inadequação no modo de enviar ou captar mensagens, vez por outra os casais se envolvem em embates que dificultam ou inviabilizam a continuação do convívio.
Esteja ou não em atividade, falando ou em silêncio, o indivíduo estará sempre comunicando algo sobre o que pensa de uma dada situação.
Os discursos comunicam uma informação e impõem um comportamento ao interlocutor. É aqui que as coisas se complicam. Nem sempre o que se diz com a boca é confirmada por posturas corporais e atitudes. A mensagem pode ser entendida de maneira ambígua pelo outro e toda ambigüidade dá margem a interpretações errôneas.
Dessa forma, o parceiro talvez não compreenda o que se deseja ou se espera dele. O fundamental para manter as coisas claras é metacomunicar, isto é, explicar o que de fato se quer dizer – se isto não estiver claro para o outro.
Relação Simétrica ou complementar
Na complexa rede tramada durante os relacionamentos homem–mulher duas formas são mais usualmente encontradas.
– As relações simétricas, que se baseiam na igualdade e minimização das diferenças, ou seja, um parceiro não exige submissão do outro (pense naqueles casamentos em que tanto pagamento de dívidas como compromissos sociais são discutidos e resolvidos em conjunto). É um tipo de relação inclusiva e eticamente comprometida.
– E as relações complementares. Nesses relacionamentos há a maximização da diferença entre os indivíduos. No tocante à tomada de decisões os elementos ocupam uma posição definida na relação, alguém decide e alguém obedece. Utilizando discursos não-verbais cada um comunica ao outro o modo como espera que ele se comporte e aquele, por sua vez, pressupõe o que é esperado dele na relação e as respectivas definições de relação encaixam-se.
Acordos secretos
Seja qual for o nível de relação – namoro ou casamento – a situação se complica quando uma das partes já não encontra compensações na manutenção do relacionamento e decide pela separação.
Se a outra pessoa sentir que precisa do relacionamento para sua sobrevivência psicológica sofrerá intensamente e talvez necessite da ajuda profissional para lidar com a separação. Há quem se sujeite a qualquer coisa para não ficar sozinho.
De onde vem esse medo? A questão é muito complexa, mas a convivência no grupo de movimento possibilita o autoconhecimento e o aprendizado da inter-relação. Como resultado ocorre a revelação do que cada um compreende por amor e do que espera de um relacionamento.
Se você deseja participar de um grupo de movimento para pessoas que querem voltar a se relacionar, informe-se pelo: http://orgonoterapia.blogspot.com/search?updated-max=2010-05-15T14:06:00-07:00&max;-results=1.
* Publicado originalmente sob o ítulo "Começar De Novo" em Viver Psicologia (São Paulo), ano XII, 132:16-19, 2004. Com a preciosa colaboração de Sueli Eduardo Marinho.
Analista reichiana. Consultora da FLUIR Desenvolvimento Humano.
(Artigonal SC #1003982)
Fonte do Artigo - http://www.artigonal.com/auto-ajuda-artigos/medo-de-namorar-de-novo-1003982.html
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