Casamento Em Crise
Por: Sueli NascimentoQue saia justa
Suponha que na hora do sexo um dos dois diga o nome de outra pessoa. A encrenca causada pelo lapso não se resolverá se o casal fingir que nada aconteceu mas, por mais que queiram, isso não será esquecido.
Por mais difícil, e necessária, que seja uma DR para sanar a situação, alguns casais optam por não escarafunchar o assunto, acreditando que mudando a decoração ou renovando a pintura da casa a crise vai se resolver. Outros pensam que jóias, viagens ou um carro novo podem apagar o incêndio.
Algumas pessoas tentam a aplicar soluções simples para resolver assuntos complexos, mas é claro que isso não resolve. É fato que muitas pessoas pedem desculpas através de presentes, a questão não é essa.
Parece conversa fiada, mas não é
Já aconteceu com você? Não se desespere há uma explicação razoável para tudo, até para isso. Lembre-se que um relacionamento é local privilegiado para as situações mais paradoxais. Do contrário como explicar que estando na cama com quem se ama, você disse outro nome?
A resposta simplista é acreditar que foi um ato falho, que no fundo queria estar com um(a) amante, que não se está apaixonado(a). Pode ser que sim, mas talvez não.
Talvez você tenha ouvido uma música ruim na hora do almoço, cujo refrão dizia aquele nome cem vezes sem parar, e o tal nome não saiu de sua cabeça durante todo o dia. Agora, depois de um banho morno, relaxado após o dia cansativo de trabalho, o exorcismo aconteceu e, finalmente, o tal nome saiu de sua cabeça. O dilema é: como convencê-la(o) que isso é verdade sem parecer que está tripudiando sobre a inteligência dela(o)?
Para quem julga que isso parece conversa fiada compreenda que, é bem possível, que uma troca de nomes nada tenha a ver com desinteresse na relação. Essas coisas acontecem. Isso é um exemplo, mas na vida real o relacionamento de casal abriga aspectos paradoxais que geram crises que para serem solucionadas exigem mais que pensamentos superficiais e respostas programadas cheias de juízos de valor.
Mas se porventura o desinteresse estiver confirmado, se você verdadeiramente não quer mais estar com essa pessoa porque ainda compartilham sexo? Você não acha contraditório desejar o fim de uma relação e continuar alimentando-a com sexo?
Crise de casal não é um problema
Problemas são conflitos afetivos que impedem ou afetam nosso equilíbrio psicológico. Diante de problemas é esperado que a questão levantada seja racional e livre de contradição: pão-pão, queijo-queijo, sem margem a interpretações. As coisas são o que são e serão resolvidas logicamente.
Imagine uma situação em que, depois uma gripe forte dando uma volta pelo parque, você é pego de surpresa por uma queda brusca de temperatura seguida de tempestade. Você estará diante de um problema: a chuva e o frio podem desencadear nova gripe, pois sua imunidade ainda está abaixo do normal.
Não há complicação, problema simples, solução simples. Bastará um instante para resolver isso: ou você desiste do passeio e volta para casa ou veste o agasalho que traz amarrado à cintura.
Enquanto pensa e realiza isso sua percepção, raciocínio, sistema endócrino, circulatório, muscular, enfim, tudo em você é colocado a serviço da resolução de seu problema. A menos que você esteja muito desligado de suas necessidades, então gastará muita energia pensando indefinidamente como resolvê-lo e vai congelar.
Vida de casal é paradoxal e complexa
Mas, quando por trás de uma situação a ser resolvida encontramos pressupostos complexos, como é o caso dos relacionamentos afetivos, não podemos considerar isso como um simples problema e sim um paradoxo, e para resolvê-lo é necessário mudar nossa forma de pensar.
Para entender a diferença entre problema e paradoxo pense no homem que se acreditava imune ao puxa-saquismo e que, um dia, se surpreendeu com sua tendência a manter próximos de si somente aqueles que o adulavam. Seu paradoxo pessoal se configurou da seguinte maneira: como receber feedbacks positivos sob a forma de críticas construtivas que o ajudassem a evoluir superando sua tendência a "cair por qualquer pessoa que lhe dissesse o quão maravilhoso" ele era? [1].
O pressuposto por trás de seu paradoxo pessoal era: desejo ouvir críticas X não suporto ouvir críticas que lhe gerava "um profundo sentimento de inadequação", cuja percepção tornava-se tão dolorosa que era a escamoteava. Ele até compreendia a importância de ser honesto consigo, mas, a necessidade de se auto-enganar e fugir do sofrimento psíquico era ainda mais forte, pois isso o ajuda a livrar-se do sentimento insuportável de inadequação.
Assim, sempre que ele ouvia que era muito bom, capaz, sensato e bonito a percepção da dor psicológica, causada pelo sentimento de inadequação, era substituída pela sensação de prazer e bem-estar de ser aceito.
Ao mesmo tempo, ele desenvolvia uma propensão a acreditar que a bajulação era a mais pura verdade e ficava pronto para acreditar em tudo o que ouvia e, inconscientemente, se permitia ser usado pelos outros de incontáveis maneiras para continuar recebendo aqueles afagos sob a forma de elogios. Nesse cabo de guerra o autoconhecimento perdia espaço para o auto-engano. Fazemos isso todos os dias, às vezes, o tempo todo.
Escalonando e saindo da crise
Guarde isso: diante de um problema pense soluções possíveis para ele e normalmente essas soluções devem se referir a medidas práticas. Se elas não trouxerem resultados satisfatórios você estará diante de um paradoxo.
Dependendo do tipo do problema vivido no relacionamento será preciso levantar algumas questões, debater os pontos que julgarem inadequados em seus comportamentos e buscar resolvê-los com ações simples e afirmativas que assegurem o bem-estar dos dois.
Vocês podem fazer psicoterapia de casal para resolver dificuldades de adaptação no relacionamento; podem procurar casais mais antigos para se aconselhar; podem, inclusive, interromper o casamento se a relação estiver causando danos a vocês e cada uma dessas ações se desdobrará em outras tantas.
Entretanto, sentimentos contraditórios, insatisfação sexual com a pessoa amada e a qualidade do relacionamento são temas complexos demais para serem resolvidos com atitudes toscas.
O humano é um ser tão misterioso, sabe tão pouco sobre si mesmo que é muito simplista acreditar que sabe tudo sobre os sentimentos de outra pessoa e que pode neutralizar uma asneira com presentes ou uma demão de tinta na casa. Mas a maioria age como se pudesse e tenta aplicar soluções triviais para resolver situações complexas como é o relacionamento de casal.
Através de grupos de movimento expressivo você pode aprender a enfrentar e superar crises no relacionamento, informe-se pelo http://orgonoterapia.blogspot.com/.
Referências
1. David Bohm, Diálogo – Comunicação e Redes de Convivência, São Paulo, ed. Palas Athena, 2005, pg. 117-127.
Perfil do AutorSuponha que na hora do sexo um dos dois diga o nome de outra pessoa. A encrenca causada pelo lapso não se resolverá se o casal fingir que nada aconteceu mas, por mais que queiram, isso não será esquecido.
Por mais difícil, e necessária, que seja uma DR para sanar a situação, alguns casais optam por não escarafunchar o assunto, acreditando que mudando a decoração ou renovando a pintura da casa a crise vai se resolver. Outros pensam que jóias, viagens ou um carro novo podem apagar o incêndio.
Algumas pessoas tentam a aplicar soluções simples para resolver assuntos complexos, mas é claro que isso não resolve. É fato que muitas pessoas pedem desculpas através de presentes, a questão não é essa.
Parece conversa fiada, mas não é
Já aconteceu com você? Não se desespere há uma explicação razoável para tudo, até para isso. Lembre-se que um relacionamento é local privilegiado para as situações mais paradoxais. Do contrário como explicar que estando na cama com quem se ama, você disse outro nome?
A resposta simplista é acreditar que foi um ato falho, que no fundo queria estar com um(a) amante, que não se está apaixonado(a). Pode ser que sim, mas talvez não.
Talvez você tenha ouvido uma música ruim na hora do almoço, cujo refrão dizia aquele nome cem vezes sem parar, e o tal nome não saiu de sua cabeça durante todo o dia. Agora, depois de um banho morno, relaxado após o dia cansativo de trabalho, o exorcismo aconteceu e, finalmente, o tal nome saiu de sua cabeça. O dilema é: como convencê-la(o) que isso é verdade sem parecer que está tripudiando sobre a inteligência dela(o)?
Para quem julga que isso parece conversa fiada compreenda que, é bem possível, que uma troca de nomes nada tenha a ver com desinteresse na relação. Essas coisas acontecem. Isso é um exemplo, mas na vida real o relacionamento de casal abriga aspectos paradoxais que geram crises que para serem solucionadas exigem mais que pensamentos superficiais e respostas programadas cheias de juízos de valor.
Mas se porventura o desinteresse estiver confirmado, se você verdadeiramente não quer mais estar com essa pessoa porque ainda compartilham sexo? Você não acha contraditório desejar o fim de uma relação e continuar alimentando-a com sexo?
Crise de casal não é um problema
Problemas são conflitos afetivos que impedem ou afetam nosso equilíbrio psicológico. Diante de problemas é esperado que a questão levantada seja racional e livre de contradição: pão-pão, queijo-queijo, sem margem a interpretações. As coisas são o que são e serão resolvidas logicamente.
Imagine uma situação em que, depois uma gripe forte dando uma volta pelo parque, você é pego de surpresa por uma queda brusca de temperatura seguida de tempestade. Você estará diante de um problema: a chuva e o frio podem desencadear nova gripe, pois sua imunidade ainda está abaixo do normal.
Não há complicação, problema simples, solução simples. Bastará um instante para resolver isso: ou você desiste do passeio e volta para casa ou veste o agasalho que traz amarrado à cintura.
Enquanto pensa e realiza isso sua percepção, raciocínio, sistema endócrino, circulatório, muscular, enfim, tudo em você é colocado a serviço da resolução de seu problema. A menos que você esteja muito desligado de suas necessidades, então gastará muita energia pensando indefinidamente como resolvê-lo e vai congelar.
Vida de casal é paradoxal e complexa
Mas, quando por trás de uma situação a ser resolvida encontramos pressupostos complexos, como é o caso dos relacionamentos afetivos, não podemos considerar isso como um simples problema e sim um paradoxo, e para resolvê-lo é necessário mudar nossa forma de pensar.
Para entender a diferença entre problema e paradoxo pense no homem que se acreditava imune ao puxa-saquismo e que, um dia, se surpreendeu com sua tendência a manter próximos de si somente aqueles que o adulavam. Seu paradoxo pessoal se configurou da seguinte maneira: como receber feedbacks positivos sob a forma de críticas construtivas que o ajudassem a evoluir superando sua tendência a "cair por qualquer pessoa que lhe dissesse o quão maravilhoso" ele era? [1].
O pressuposto por trás de seu paradoxo pessoal era: desejo ouvir críticas X não suporto ouvir críticas que lhe gerava "um profundo sentimento de inadequação", cuja percepção tornava-se tão dolorosa que era a escamoteava. Ele até compreendia a importância de ser honesto consigo, mas, a necessidade de se auto-enganar e fugir do sofrimento psíquico era ainda mais forte, pois isso o ajuda a livrar-se do sentimento insuportável de inadequação.
Assim, sempre que ele ouvia que era muito bom, capaz, sensato e bonito a percepção da dor psicológica, causada pelo sentimento de inadequação, era substituída pela sensação de prazer e bem-estar de ser aceito.
Ao mesmo tempo, ele desenvolvia uma propensão a acreditar que a bajulação era a mais pura verdade e ficava pronto para acreditar em tudo o que ouvia e, inconscientemente, se permitia ser usado pelos outros de incontáveis maneiras para continuar recebendo aqueles afagos sob a forma de elogios. Nesse cabo de guerra o autoconhecimento perdia espaço para o auto-engano. Fazemos isso todos os dias, às vezes, o tempo todo.
Escalonando e saindo da crise
Guarde isso: diante de um problema pense soluções possíveis para ele e normalmente essas soluções devem se referir a medidas práticas. Se elas não trouxerem resultados satisfatórios você estará diante de um paradoxo.
Dependendo do tipo do problema vivido no relacionamento será preciso levantar algumas questões, debater os pontos que julgarem inadequados em seus comportamentos e buscar resolvê-los com ações simples e afirmativas que assegurem o bem-estar dos dois.
Vocês podem fazer psicoterapia de casal para resolver dificuldades de adaptação no relacionamento; podem procurar casais mais antigos para se aconselhar; podem, inclusive, interromper o casamento se a relação estiver causando danos a vocês e cada uma dessas ações se desdobrará em outras tantas.
Entretanto, sentimentos contraditórios, insatisfação sexual com a pessoa amada e a qualidade do relacionamento são temas complexos demais para serem resolvidos com atitudes toscas.
O humano é um ser tão misterioso, sabe tão pouco sobre si mesmo que é muito simplista acreditar que sabe tudo sobre os sentimentos de outra pessoa e que pode neutralizar uma asneira com presentes ou uma demão de tinta na casa. Mas a maioria age como se pudesse e tenta aplicar soluções triviais para resolver situações complexas como é o relacionamento de casal.
Através de grupos de movimento expressivo você pode aprender a enfrentar e superar crises no relacionamento, informe-se pelo http://orgonoterapia.blogspot.com/.
Referências
1. David Bohm, Diálogo – Comunicação e Redes de Convivência, São Paulo, ed. Palas Athena, 2005, pg. 117-127.
Analista reichiana. Consultora Associada da FLUIR Desenvolvimento Social e Humano.
(Artigonal SC #1206819)
Fonte do Artigo - http://www.artigonal.com/advertising-artigos/casamento-em-crise-1206819.html
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